Ñ procures em vão - 2002.
Nanquim, hidrográfica e aguada de café s/ papel vergê. 15x21cm
Corpos ao largo como plácidas naus.
Linfa, músculos e pele em relaxo total.
Sem concessões.
Hipnótica dormência de
O quarto silencioso.
O deserto na mente.
Imortalidade.
Meireles, 2000.
A gente se enlaça por horas.
Depois é ainda teu cheiro e teu gosto bom.
Tomamos café bem forte com pão e manteiga.
E fica tudo para sempre na ponta da língua.
Prainha, 1999.
Júlia Costa e Marcus Danilo Moreira da Silva - 2007.Quem sabe, faz. A quatro mãos dois jovens amigos nos mostram que podem falar de coisas lindas e defitivamente não findas. Ainda tem quem acredite em sonhos, amor e paz.
Essa é uma visão de viajante na janela do trem o tempo todo grudado os olhos na correria das carnaúbas, dos postes, dos serrotes, dos gaviões voando baixo caçando cobra e todos os outros bichos que se misturam com o cascalho pedregulho destes solos de secura dominante a perder de vista.
Esta é uma visão de olho arregalado de quem já namora a insônia há tanto tempo que não sabe mais nem dormir como os viventes transeuntes cautelosos de todo o dia de trabalheira sem fim.
A janela do trem vai dando para um mundo sem cortinas num cenário que parece não mudar só o olho que vai se alargando num rasgão para caber aquela toda vastidão sem alma nenhuma, só pedra, areia grossa, mais pedra ainda e sol que retine nos trilhos que parecem ferrões de prata lancetando aqueles cafundós.
Vem um som de dentro dos miolos que encerra um Deus nos acuda num grito abafado de quero sair daqui de qualquer jeito por qual caminho que seja de onde vier aparecer. Mas é só ter paciência que não tarda a tudo amainar e a dor vozeirão se calar de vez.
A noite chega como uma cuia dum coité imenso que vai cobrindo as vivências todas protegendo num acarinhado de dormência o corpo que se deixa desistir tão destrambelhado que jaz de montinho por cima das cobertas, pano de rede de tantos remendos retalhados e rejuntados com linha de toda cor.
Do noturno assoma a cantoria do vento nas locas soprando um baixo de tutano bem encorpado, mais o piado dos pássaros e o rasgar das corujas criando com os grilos um brocado de finas harmonias se aveludando tudo numas bocas de lábios de brisa na galharia seca, lambendo as feridas da taquara largando no ar um cheio de notas frescas que sonham na cabeça da gente um cinema de pinturas e desenhos de uma beleza tão danada que só faz lembrar um coro de anjas de cabelos de milho esvoaçados dançando numa roda de enrodilhar a gente numa fartura de felicidade que nenhum humano ser vivente jamais viveu.
Nem jamais verá.
Diário de viagens. Inhamuns, carnaval de 1989