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sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Asas de mim.


A chuva está em teus olhos
como os favos de mel
estão em tua boca.
Asas de mim voando
sob uma chuva e um sol de
casamento da raposa.
Ponho a mão sobre teu
ventre de murmúrio aquático
e acompanho o mantra
da tua respiração.
Asas de mim em vôos
a destinos longínquos
e solitários.
As praias normandas de Maragogi,
o mar dos Açores,
o gelo infinito dos pólos,
os Inhamuns onde a aventura
tomou conta de mim,
como na Amazônia do Ecuador
e na Patagônia da flauta doce
e dos leões da peninsula Valdez.
Asas de mim, sou águia solene
sobre o Vale dos Monumentos
e o Golfo do México
onde suas tépidas correntes
aquecem meu leito de sonhos
aos pés do Cotopaxi.
Asas de mim, você, eu ,
grou, garça, ganso,
cotovia,pato, dragão em Idaho.
Sou chinês em Atacama,
francês em teus lençóis,
alvas areias maranhenses
e um sólido torrão de barro pedra
nos cafundós do grande mar sertão
de Santana do Cariri.
Sou Saara, sou Saladino
semente grão de areia,
água mole em poço de pedra
indo fundo nas entranhas
da terra e saindo lá no Japão
onde sou bonsai, bambu, jinriquixá,
piaçava, guaxinim, gato maracajá
morcego batmã batendo as asas
e o céu de novo em mim
e a chuva em teus olhos
e os favos em tua boca...


Meireles, 2005.

Ilustração: interferência#61, técnica mista s/papel, 17x25cm, 2003.

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