Ao largo do Mediterrâneo passam algas, destroços de gregos e troianos, o rufo dos tambores, a lua cimitarra, o cheiro doce do fumo turco, seios mimosos, ancas soberbas, romãs, hortelãs, os poemas épicos de Homero e os óleos esotéricos em um imenso baile desnudo e almiscarado.
A chuva está em teus olhos como os favos de mel estão em tua boca.
Asas de mim voando sob uma chuva e um sol de casamento da raposa. Ponho a mão sobre teu ventre de murmúrio aquático e acompanho o mantra da tua respiração.
Asas de mim em vôos a destinos longínquos e solitários. As praias normandas de Maragogi, o mar dos Açores, o gelo infinito dos pólos, os Inhamuns onde a aventura tomou conta de mim, como na Amazônia do Ecuador e na Patagônia da flauta doce e dos leões da peninsula Valdez.
Asas de mim, sou águia solene sobre o Vale dos Monumentos e o Golfo do México onde suas tépidas correntes aquecem meu leito de sonhos aos pés do Cotopaxi.
Asas de mim, você, eu , grou, garça, ganso, cotovia,pato, dragão em Idaho. Sou chinês em Atacama, francês em teus lençóis, alvas areias maranhenses e um sólido torrão de barro pedra nos cafundós do grande mar sertão de Santana do Cariri.
Sou Saara, sou Saladino semente grão de areia, água mole em poço de pedra indo fundo nas entranhas da terra e saindo lá no Japão onde sou bonsai, bambu, jinriquixá, piaçava, guaxinim, gato maracajá morcego batmã batendo as asas e o céu de novo em mim e a chuva em teus olhos e os favos em tua boca...
Na aduana o rapaz solícito tecla três espaços e digita; sobrenome, nome, data de nascimento, naturalidade... Amanhã fica pronto meu passaporte vietnamita. À tout à l’heure.
Cada um, cada dito cujo, cada matador, tem um risco de nascença que lhe dá força para além do porém e do todavia. Assim como os carcarás, os gaviões e os gatos maracajás.